sábado, 30 de novembro de 2013

Willoughby...o reencontro e a decepção - (Reencontros - parte 5)

       
        Sem sombra de dúvida, esse reencontro é um dos mais relevantes das obras de Jane Austen. Imaginar a menina romântica que faz de tudo pra se reencontrar com o rapaz que ama e o que é pior, imagina ser o príncipe encantado, um homem cheio de virtudes, o par perfeito, bem humorado, romântico, conhecedor de poesias e que de repente mostra ter um caráter totalmente avesso e a decepciona grandemente em tão poucos instantes.

  Essa passagem é crucial em "Razão e sensibilidade"! Marianne em um turbilhão de emoções e Elinor tentando fazer a irmã manter o controle, por ela mesma e por tantos que assistiam a cena. Incrível!!!

    Não sei se Jane Austen vivenciou algum tipo de reencontro assim, ou se chegou a saber que alguém tivesse passado por isso, observadora e perspicaz como era, mas o fato é que a descrição das reações de Marianne com o acontecimento são muito precisas para o tipo de personalidade que ela apresenta ter. Ela simplesmente não entende o comportamento de Willoughby, não pode acreditar que ele esteja agindo conscientemente sem que tenha havido algum problema de que ela não tenha tido conhecimento, ou talvez um mal entendido. Quando realmente percebe que ele tem outra companhia, quase perde os sentidos. É uma mistura de desilusão, tristeza, decepção e ainda a conclusão instantânea de que foi enganada em "360 graus". 
     

     (...) Tinham-se acomodado havia não muito tempo quando Elinor viu o sr. Willoughby em pé, a poucos metros delas, em animada conversação com uma jovem muito elegante. Os olhares deles encontraram-se e o cavalheiro cumprimentou-a com um aceno de cabeça, sem fazer nem sequer menção de ir falar com ela ou de se aproximar de Marianne, a quem talvez ainda não tivesse visto. Continuou conversando com a moça e Elinor voltou-se involuntariamente para Marianne, achando quase impossível que ela não visse Willoughby. Exatamente nesse momento Marianne percebeu-o e uma súbita alegria a fez resplandecer; ela teria ido para perto dele no mesmo instante, se a irmã não a segurasse.
- Santo Deus! - exclamou Marianne. - Ele está aqui... está aqui! Oh, por que não olha para mim? Por que não posso ir falar com ele?
- Por favor, peço-lhe, contenha-se! - implorou Elinor. - Não dê a perceber o que você está sentindo, diante de toda essa gente. Talvez ele ainda não a tenha visto.
No entanto, era difícil para Elinor acreditar no que dizia e, naquele momento, manter a compostura não só estava além das forças de Marianne, como também estava além dos desejos dela, que permaneceu sentada a custo; entretanto, a impaciência e agonia que sentia espelhavam-se em seu semblante.
Por fim, Willoughby voltou-se e olhou para as duas; Marianne levantou-se e, pronunciando o nome dele com afeto, estendeu-lhe a mão. O jovem cavalheiro aproximou-se, perguntando pela Sra. Dashwood e desde quando elas se encontravam na capital, dirigindo-se tanto a Elinor quanto a Marianne, como se quisesse evitar os olhos dela e estivesse determinado a não reparar em sua atitude. Elinor perdeu completamente a presença de espírito diante dessa inesperada atitude e viu-se incapaz de pronunciar nem uma palavra sequer. Mas sua irmã expressou tudo que sentia no mesmo momento. Com o rosto corado e a voz repleta de emoção, ela disse:
- Bom Deus! O que significa isto? Não recebeu minhas cartas? Por que não aperta a minha mão? (...)
- Não recebeu meus bilhetes? - perguntou Marianne, presa de grande ansiedade. - Há algum engano, tenho certeza... um terrível engano. O que significa tudo isto? Diga-me, Sr. Willoughby. Pelo amor de Deus, diga-me o que está acontecendo! Ele não respondeu, porém sua expressão modificou-se e novamente espelhou profundo embaraço. Mas como seus olhos encontraram os da jovem com quem estivera conversando, ele obrigou-se a se recuperar, com evidente esforço, e em seguida falou: - Sim, tive o prazer de ser informado de que as senhoritas se encontravam na capital, pelos bilhetes que tão gentilmente me enviou.
Nem mesmo havia terminado de falar, Willoughby fez um rápido cumprimento de cabeça e voltou para junto de sua amiga. Marianne, que se tornara terrivelmente pálida e sentia-se incapaz de continuar em pé, deixou-se cair em sua cadeira.
Elinor, esperando que ela desmaiasse a qualquer momento, procurava escondê-la da vista dos outros e, ao mesmo tempo, tentava reanimá-la com água de lavanda.
- Vá até o Sr. Willoughby, Elinor - pediu Marianne, depois que conseguiu recuperar a voz -, e obrigue-o a vir falar comigo. Diga-lhe que preciso vê-lo... que preciso falar com ele ao menos por um instante... Que não posso ter sossego... que não posso ter paz até que ele explique esse mal-entendido ou seja lá o que for. Por favor, vá agora!
- De que modo eu poderia fazer isso? Não, minha querida Marianne, você precisa esperar. Este não é o lugar adequado para explicações. Espere ao menos até amanhã.
Foi com muita dificuldade que Elinor conseguiu impedir que Marianne fosse falar com ele e tentou persuadi-la a disfarçar a agitação e a esperar, com aparente compostura pelo menos, até que pudesse conversar com o jovem cavalheiro em um ambiente de maior privacidade, o que provavelmente seria de melhor efeito. Era quase impossível consegui-lo, pois Marianne não parava de falar, em voz baixa, de sua infelicidade, de sua tristeza, de sua desgraça.
       Pouco tempo depois, Elinor viu que Willoughby se retirava do salão pela porta que dava para a escadaria.(...) (Jane Austen – “Razão e sensibilidade” – Volume II - cap.VI)


       As versões em vídeo:


    Pra ser realmente bom é claro que o primeiro requisito básico é ser fiel à obra. 
     A versão de "Razão e sensibilidade" de 1971 não me agrada muito. Marianne me parece mais uma garota mimada do que a jovem romântica que Jane Austen nos apresenta no livro. Nessa cena então, nem se fala. Que "barraco"!!! Jamais Marianne teria agido dessa forma há dois séculos atrás! Mesmo imaginando que a surpresa e a desilusão foram grandes naquele momento. Sem contar que a Srta. Grey me lembrou uma das irmãs "Cajazeiras" da antiga novela "O bem amado"; muito "feiozinha" e sem a classe de uma moça da sociedade.

     A versão de 1981 é bem feita, gostei muito dos atores escalados. Marianne se mostra bem surpresa e muito feliz em ver o antigo "namorado", mas não consegue entender a atitude dele. Esse Willoughby loiro é bem convincente também, diferente dos demais. As irmãs Dashwood também são muito bonitas. Gostei da cena.

   
     Na de 1995, Kate Winslet faz uma interpretação excelente para Marianne, mas não gostei muito de Willoughby, ele tem mesmo "cara de falso", não de irresponsável como nos faz compreender o livro; mas contudo, a cena é muito boa.


      Essa versão de 2007 é sem dúvida alguma minha preferida! A cena ao meu ver também é muito boa e bem fiel ao livro. Linda!

     Agora resta imaginar... Não deve ter sido nada fácil, mesmo para uma mulher atual, emancipada, em pleno séc. XXI e há duzentos anos atrás, em uma sociedade onde o casamento era o passaporte para a tranquilidade e felicidade em todos os sentidos? Isso sim é "desilusão amorosa". Ainda fico pensando...Será que Jane Austen passou por isso?

2 comentários:

  1. Patricia,

    a versão de 1971 é triste... de se ver. Gosto da 1981 mas gosto mesmo de ambas de 1995 e 2008, com um detalhe acho o Willoughby de 2008 fraco.

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    Respostas
    1. Raquel
      De fato o Willoughby de 2007 não é mesmo o mais indicado, embora seja minha versão de S&S preferida. Prefiro o de 1995 e o "loiro" de 1981. Bjos,

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