quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Discografia Jane Austen

     Depois de tanto blá-blá-blá, e músícas daqui e livros dali, piano pra cá e canções prá lá, que tal ouvir um pouco?

     Tarefa difícil... Muitos já tentaram (quase todos conseguiram) fazer um tipo de gravação sobre as músicas e canções encontradas em Chawton;

músicas que além de Jane,
 a família Austen também compartilhava (e muito). 

     As opções são inúmeras, desde trabalhos mais aprofundados*
até escolhas bem interessantes sobre o gosto musical da época.

     Além do mais, ouvir música clássica é um grande benefício,
tendo em vista o lixo sonoro que forçosamente temos que "apreciar" todos os dias e em praticamente todos os lugares.
      A música clássica desacelera o pensamento e relaxa.

     É bom pra qualquer idade até mesmo para as gestantes

e quem ainda não "curte" aproveite que vem vindo o Ano Novo e coloque novos (e bons) hábitos em sua vida!
  
 






















       Depois, me conte!!!

     Estes e outros CD's sobre o tema podem ser encontrados na AMAZON.

*Pretendo fazer um post em breve aprofundando esse assunto.

sábado, 15 de dezembro de 2012

As canções que Jane Austen cantava

 
As perguntas:

  • O que Jane Austen cantava?
  • Quais foram suas canções favoritas?
  • Sobre que assunto falavam?
     Essas perguntas nos são muito interessantes porque lançam uma luz sobre a vida e pensamento de Jane Austen.  Então, vamos ao que interessa!
    
      No tempo de Jane, as canções italianas eram ainda populares (como haviam sido durante a maior parte do século XVIII), assim como as escocesas e árias irlandesas (Haydn e Beethoven, entre outros foram contratados para fazer arranjos delas).
     Em seu livro "Emma" conta-se que Jane Fairfax  recebeu um novo conjunto de melodias irlandesas, enviadas com seu novo e belo piano Broadwood.

Piano Broadwood de 1817
    Jane Austen interpretava canções folclóricas e canções da fase popular de compositores como Dibdin, Arne e Shiled

O compositor inglês
Charles Dibdin -  1745-1814
     As canções da coleção encontradas em Chawton, formam um grupo interessante, variando de sentimentais  a espirituosas, canções de árias de óperas simplificadas, além de uma grande coleção de canções escocesas publicadas em Edimburgo no final do século XVIII. 



            As canções que Jane gostava, refletiam o tipo de diversão, ironia e espirituosidade que seria de se esperar da escritora que conhecemos. Um bom exemplo é "As alegrias do País”. Foi escrito por Charles Dibdin, que era um compositor, intérprete e um precursor do music hall vitoriano. Ele também escreveu canções mais sérias, sentimentais e patrióticas, podendo-se concluir que o gosto musical de Jane Austen era eclético.

A canção "John Anderson, my Jo, John",
também da época
             Outras letras encontradas nos cadernos de anotações de Jane são mais surpreendentes na medida em que exploram como "não seria" Jane Austen, em se tratando de emoções e sentimentos femininos, pois há letras e melodias com tristes lamentos.
       Chama também a atenção, um grupo de canções sobre amantes separados, como o lamento de "Orfeu", de Gluck (que Austen tinha em uma edição impressa em italiano e inglês). Outra letra linda, "...eu tenho uma dor silenciosa aqui...", é um hino de auto-humilhação no amor. Várias canções expressam o sentimento. Mas o aspecto mais surpreendente da coleção de Jane, são as letras que expressam muitas coisas que uma mulher não poderia dizer em circunstâncias normais. Essas letras levantam questões mais amplas sobre a natureza e a função da música na vida das mulheres no final do século XVIII e início do XIX. 
     Senhoras mais jovens eram praticamente "condenadas" a tocar e cantar. Muitas das canções envolvem assuntos francos sobre sexo e as mulheres eram esperadas para realizar os versos. Uma série de canções escocesas envolvem convite sexual de uma mulher, e na coleção de Jane há vários exemplos em várias línguas sobre homens que desejam perseguir as mulheres, todos marcados para um soprano (a voz aguda feminina, em que Jane Austen se enquadrava).
      Tanto faz se o cantor é do sexo masculino ou feminino, deixando de lado a questão do convite sexual evidente, as pessoas estão sempre declarando seu amor com todas as suas forças, alguns mais explicitamente, outros castamente, alguns sentimentalmente, outros melodramaticamente.
     "Polwart on the Green" é um (encantador) convite sexual da Escócia: uma moça convida um "amante/rapaz" para compartilhar sua cama. Ela primeiro declara sua desaprovação com as mulheres que resistem e que dizem não, enquanto secretamente desejariam agir como ela e então faz seu convite.
         Este   convite   para o verde,  o gramado  e  por incrível que pareça sua cama, é aparentemente algo que uma mulher poderia cantar por estar contida em uma música e muitas vezes em dialetos. Enquanto a cantora está expressando essa feminilidade, está representando uma menina escocesa "simples" e entoando uma canção folclórica, aparentemente saudável e inofensiva por definição, o que podemos perceber, é Jane apenas refletia o gosto "educado" e clássico de uma senhora dos seus dias.
     Um exemplo é "The Irishman". Uma canção que compara homens de várias nacionalidades como amantes, e conclui em cada verso que nenhum deles pode amar como um irlandês; é uma espécie de cantiga, uma canção simples. Jane deve ter gostado do trocadilho, geralmente divertido com base em vários significados de uma mesma palavra ou uma semelhança de significado entre palavras, visto que era bem humorada. Aqui, as mulheres são ativas, não passivas, esperarando para serem escolhidas.
     Alguns estudiosos especulam que Jane Austen pode ter recebido esta canção de seu admirador irlandês Tom Lefroy, e que a repetida frase "nenhum deles pode amar como um irlandês" poderia se referir a ele, uma referência biográfica tentadora!
Cena do filme "Amor e inocencia",
representando Jane Austen e Tom Lefroy 
     Outras tantas canções, além das de amor têm seres masculinos como "falantes" e obriga a cantora a assumir papéis masculinos: heróicos soldados ou marinheiros descrevendo batalhas e dificuldades, desportistas, as alegrias da caça, etc. Uma delas é, "The soldier adieu", de Dibdin, em que Jane Austen mudou "soldado" para "marinheiro" em sua cópia (muito autêntica essa moça...).
          Aqui, a cantora tem uma chance (mesmo que temporariamente) de não se tornar a mulher que espera em casa, mas o herói que sai para a aventura e a certeza de que ele pode contar com a mulher em casa.
     Jane também se mostrou ativa nos acontecimentos de seu tempo, (embora alguns cadernos de anotações digam o cantrário), tendo canções que falavam sobre os lamentos de Marie Antoniette e Mary Stuart, rainhas presas e uma canção francesa de protesto sobre um rei preso,

mas ela também fez algo muito mais surpreendente: em dias de guerra napoleônica, cuidadosamente copiou a "Marcha dos marselleises" e  a música e seis versos franceses da própria  "La Marselleise" (hino nacional francês),  o interessante foi que fez isso com mais cuidado e capricho do que a habitual caligrafia utilizada nas outras cópias (pelo menos nos versos iniciais), lembrando que certas canções sobre guerra cantadas por uma senhora era uma certa ousadia.
       O século XVIII foi horrorizado com a idéia de uma mulher com uma espada na mão (uma objeção a escrita das mulheres), era uma maneira de dizer que as mulheres deviam segurar a agulha e não a pena (para escrever), em suas mãos.
       Mas o que impressiona é como as canções eram “atrevidas” para o período no qual foram escritas e por se destinarem a qualquer cantor jovem, muito contra os padrões contemporâneos de diálogo.
       É uma notícia muito boa que algumas páginas de sua coleção de música já foram microfilmadas, digitalizadas, executadas e gravadas*, e que várias pessoas estão trabalhando em edições ou debates sobre sua música preferida. Isso também convida a uma investigação mais ampla sobre  o que as mulheres britânicas cantavam ao piano, nos séculos XVIII e XIX.  
*no próximo post

Fontes:
www.burnsscotland.com/items/a/a-select-collection-of-original-scottish-airs-for-the-voice,-containing-songs-by-robert-burns.aspx
www.jscholarship.library.jhu.edu/handle/1774.2/5453
www.affordablehousinginstitute.org
www.earlypiano.co.uk
www.rmg.co.uk
wwwnewbostonfineandrarebooks.com

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A biblioteca musical de Jane Austen


Sala da casa de Jane Austen em Chawton,
com um piano square Clementi, típico da época
      Jane Austen possuia  em grande estima, seus livros de música e o fato de ela ter se dedicado à essa arte, mais especificamente ao piano, muito contribuiu para sua grandeza como romancista.
     A maioria de suas personagens femininas tocava e/ou também cantava , e em muitas passagens de seus romances, a música exerce um belo papel de fundo.

Jane Austen Memorial Trust - Chawton/Inglaterra,
onde estão os manuscritos da escritora

      O Jane Austen Memorial Trust, (casa onde Jane Austen viveu seus últimos anos) em Chawton, possui uma coleção  de oito volumes de partituras musicais. 
     Três livros são inteiramente em manuscrito, sendo dois quase que completamente feitos com todo zelo e capricho pelas próprias mãos de Jane. Dizem que estão tão bem copiados que parecem música impressa! Foram escritos em papéis pautados para música, adquiridos de revendedores de Londres, talvez compradas na ocasião em que foi visitar seu irmão Henry.
     Consta que ela assombrou as lojas, sem dúvida em busca de novas músicas, bem como novos tecidos, livros e presentes para a família.
     Há  um terceiro livro também em manuscrito, feito por alguém desconhecido, outros cinco de música impressa e alguns  manuscritos reunidos em volumes separados. 
     A caligrafia como sendo de Jane Austen, foi identificada por TF Carpenter, curador presente da casa.
     O conteúdo é típico da música doméstica da época e consequentemente, inclui músicas de compositores famosos de hoje.
     O gosto de Jane era eclético. Há canções, obras para piano (dueto e solo) e música de câmara (para ser tocada em uma sala, por poucos instrumentos), retiradas de diversas fontes.  Músicas lindas em acompanhamentos simples; as canções possuem palavras muitas vezes escritas em dialeto. 
     Na coleção de Jane Austen, nos manuscritos em álbuns especialmente vinculados, estão inclusas músicas de Handel e Haydn (grandes compositores) e de outros artistas ingleses da época, como Dibdin, Samuel Webbe, as baladas mais jovens, Shield, além de canções folclóricas populares, canções em quadrinhas, canções italianas, canções francesas, seleções de ópera, peças instrumentais também por Corelli, Handel, Gluck, Haydn, Pleyel, Cramer e Johann Christian Bach (o vigésimo e mais jovem filho do célebre Johann Sebastian Bach).
      Mas a grande preferência  de Jane eram as canções e danças populares da época; ela  gostava mais de Pleyel do que Haydn, e tinha incluído em sua coleção 14 de suas sonatinas.
     Um exemplo  encontrado nos manuscritos de Jane , é "Lotharia", de Thomas Augustine Arne (1710-1778),
Publicação da Universal Magazine- 1749
essa canção foi publicada na Universal Magazine, em novembro de 1749. Ela foi publicada com letra, mas nos livros de Jane foi encontrada somente a partitura para piano sem versos.
    
Algo que vale comentar:
     Patrick Piggott foi um pianista e compositor, e sua paixão nas obras de Jane Austen fez com que escrevesse o delicioso livro "The innocent diversion: A study of music in the life and writings of Jane Austen" que aborda a importância da música na vida e obra de Jane Austen.
O livro com duas capas diferentes,
sem tradução para o português
     Em sua apologia de abertura, ele afirma que o livro é "para os leitores que compartilham o seu próprio prazer na arte de Jane Austen". Ele começa com capítulos sobre a música na vida de Jane Austen - o que ela tocou, o que ela ouviu, o que ela gostava, e a música do período Regencial Inglês, especialmente em Bath. Aprendemos que peças clássicas e canções populares eram realmente populares, e sobre alguns dos artistas mais conhecidos da época, mergulhando completamente em cada cenário musical de uma maneira encantadora.
     Ele trabalha o que Catherine Morland teria ouvido no concerto que assistiu em Bath, em Northanger Abbey, e que música constituiu o fundo na proposta do Capitão Wentworth no final de Persuasão. Brinca que na forma de cada heroína tocar, às vezes até mesmo o instrumento dela, estão tecidas as histórias de suas alegrias e tristezas.
     O livro termina com capítulos sobre essa coleção de livros de música de Jane Austen que falamos aqui.
     A lista das músicas encontradas nos manuscritos de Jane Austen se encontra aqui e nos próximos posts falaremos sobre seus compositores e canções preferidas. Há muito o que descobrir!
Fotos:
janeaustenproject.org
whatdoikdow.typepad.com
janeaustenworld.wordpress.com
allthings-jane-austen.blogspot.com.br

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